Perspectiva
Ao objecto do nosso afecto dedicamos tempo para o rodearmos de nós mesmos até o enquadrarmos num conceito pré-definido que, aos nossos olhos, o caracteriza. O objecto do nosso afecto, contudo, é vítima da nossa indulgência não só para com ele, mas também para nós próprios. Quero com isto dizer que o culpado do desengano não é na maioria das vezes o objecto ilusório, mas a condescendência mesquinha com que este foi analisado. Da preguiça cognoscente que evitou todos sinais que a incomodavam. Ao objecto do nosso afecto devemos não tempo, mas uma parte de nós mesmos, como se ao outro pudéssemos oferecer a nossa própria mundividência e em troca assumissemos o compromisso de aceitar a sua. Fechar esta janela é reduzir o cosmos à pequenez do nosso umbigo. Gostar não é um acto passivo, um monólogo enfadonho entre nós e as nossas amarguras, é um diálogo com o mundo visto por outros olhos.
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