Paixão
Embora esteticamente tenha uma preferência por formas e conceitos apolíneos, considero que vida não é vida sem paixão. Nem tão pouco vejo a paixão da forma habitualmente redutora, limitada às vivências românticas. Aprecio todas as formas de paixão e quanto mais irracionais, mais cheias de ilusões, suor e veias latejantes, melhor.
Costumo nutrir algum desdém por aqueles que seguem religiosamente o caminho por eles mesmos tracejado (esquizofrenicamente, admiro-os também) sem se deixarem levar jamais por paixões ocas mas que arrepiam a alma e nos fazem sentir o sangue borbulhar.
Pensar que os calados e tímidos são isentos de paixão é um erro. Em tempos também fui calada e tímida e, garanto-vos, nunca a minha alma foi tão atormentada por paixões assolapadas da mais variada espécie. Na adolescência não há, nem deve haver, meio termo.
Por isso gosto de ouvir a minha Avó falar da sua juventude. Também ela um dia foi calada e tímida. Também ela agora fala pelos cotovelos, com a cadência acelerada de quem não sabe sentir a meio gás, de quem põe a alma ao serviço dos sentidos, do corpo, e recusa a humanidade como dual, abraçando a sua condição de ser uno e completo. As paixões conduzem-nos, inavariavelmente, a erros. Falar sobre eles é reduzi-los à condição de passado genealógico da nossa personalidade de hoje.
Falar, ouvir o som confuso e rápido da própria voz expulsando paixões a uma velocidade frenética de um tempo que não é tempo é entendimento. Falar uma linguagem que é a de quem vive e respira e sente sem desprezar nem corpo nem alma. Aplicar este princípio a tudo é muitas vezes desgastante, cansativo. Um caos.
O Kaos.
Mas o kaos de som, de palavras freneticamente lançadas no ar, parece-me um mimetismo a um tempo fiel e absurdo do estado de alma que as paixões provocam.
Costumo nutrir algum desdém por aqueles que seguem religiosamente o caminho por eles mesmos tracejado (esquizofrenicamente, admiro-os também) sem se deixarem levar jamais por paixões ocas mas que arrepiam a alma e nos fazem sentir o sangue borbulhar.
Pensar que os calados e tímidos são isentos de paixão é um erro. Em tempos também fui calada e tímida e, garanto-vos, nunca a minha alma foi tão atormentada por paixões assolapadas da mais variada espécie. Na adolescência não há, nem deve haver, meio termo.
Por isso gosto de ouvir a minha Avó falar da sua juventude. Também ela um dia foi calada e tímida. Também ela agora fala pelos cotovelos, com a cadência acelerada de quem não sabe sentir a meio gás, de quem põe a alma ao serviço dos sentidos, do corpo, e recusa a humanidade como dual, abraçando a sua condição de ser uno e completo. As paixões conduzem-nos, inavariavelmente, a erros. Falar sobre eles é reduzi-los à condição de passado genealógico da nossa personalidade de hoje.
Falar, ouvir o som confuso e rápido da própria voz expulsando paixões a uma velocidade frenética de um tempo que não é tempo é entendimento. Falar uma linguagem que é a de quem vive e respira e sente sem desprezar nem corpo nem alma. Aplicar este princípio a tudo é muitas vezes desgastante, cansativo. Um caos.
O Kaos.
Mas o kaos de som, de palavras freneticamente lançadas no ar, parece-me um mimetismo a um tempo fiel e absurdo do estado de alma que as paixões provocam.
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