Socialista
Tenho uma avó socialista e ateia que adoro. Mesmo que ela seja tão socialista que acha o Mário Soares um homem bonito. Afirmação capaz de deixar o meu falecido avô às voltas no jazigo, ele que nos idos anos 50 era um perfeito sósia do Cary Grant, um galã pelas ruas de Lisboa. A minha avó dizia-me que me poda apaixonar por qualquer um, sem pensar em caras larocas, apelidos nem contas bancárias, nem rigorosamente mais nada, para além dos seus méritos intelectuais. "Podes apaixonar-te por um pedreiro das barracas", dizia-me, "mas não por um que não goste de ler". Acreditei. Até porque a minha avó tem uma biografia que me parece fascinante. Porque leu (e lê, apesar de a vista lhe ir faltando) imenso e sabe de facto muitas coisas. Tendo vivido em Casablanca no pós-guerra, conviveu com alguns sobreviventes do Holocausto, criando em mim não só uma profunda admiração pelo povo judeu, como também a certeza de que a única coisa que não nos podem tirar é o que temos armazenado em meia dúzia de neurónios. Tudo o resto, em alguma altura pode, simplesmente, desaparecer.
Graças a Deus (ou a qualquer outra entidade benemérita) tive a sorte de ter um avô em nada parecido com o Cary Grant, salazarista até à medula e profundamente católico. O meu avô que nos adorava acima de todas as coisas e que era um homem Bom. Mesmo Bom. É que se não fosse este equilibrio, a esta altura estava absolutamente tramada.
Graças a Deus (ou a qualquer outra entidade benemérita) tive a sorte de ter um avô em nada parecido com o Cary Grant, salazarista até à medula e profundamente católico. O meu avô que nos adorava acima de todas as coisas e que era um homem Bom. Mesmo Bom. É que se não fosse este equilibrio, a esta altura estava absolutamente tramada.
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