Os olhos dela
Aos olhos dela a minha Avó é a Bivó. Aos olhos dela o meu Pai é tio-avô e eu sou a tia que inventou um capuchinho feito com um casaco cinzento que mais tarde serviu para a transformar numa versão Pin y Pon de Gandalf, the Grey. Aos olhos dela a minha Avó é uma senhora velhinha, velhinha, que parece estar a dormir, frágil, enquanto todos vivem. O meu Pai é um senhor de idade com o (pouco) cabelo da cor da neve nos Alpes suíços. Aos olhos dela eu estou longe de ser a menina de jardineiras e boné.
Há olhos que os olhos dela nunca vão ver e que eu gostava de lhe contar. Há olhos que ela vai ver gravados em fotografias de outros tempos, de outra luz que não a que os seus olhos grandes vêem.
Aos olhos dela, somos todos outros, diferentes do que costumávamos ser. Os olhos dela mostram-me o tempo como ele é.
1 Comments:
lindo este texto. contra a passagem do tempo e a vida que muda não há nada a fazer a não ser tecer os afectos com muita força, para nunca fugirem com a espuma dos dias. acho que é o que tu fazes e muito bem. resta à mafalda conhecer pelos teus olhos os olhos de quem já foste e os de quem ela não chegou a conhecer. quando ela tiver idade suficiente sei que vais conseguir explicar-lhe a luz dos outros tempos porque parte dessa luz és tu e há-de ser também ela.
beijos
ucha
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