Tripping down memory lane
No passado fim-de-semana fizemos uma girls night e em memória de outros tempos fomos para o Jamaica ouvir um cheirinho a Rockline. Foi bom por ver que há coisas que nunca mudam e que há músicas que vou poder dançar a vida inteira. Esta semana recebi uns e-mails a comentar a noite e que "é bom termos mudado". Não sei se concordo. A miúda de jardineiras e boné que tinha medo dos cabeludos do Rockline está diferente. Mas não está mais feliz. Na altura pasava horas comigo própria e estava bem. Lia livros de uma ponta à outra. Raramente me preocupava e quando isso acontecia, durava meia-hora. Era verdadeiramente feliz e passava a vida a rir por tudo e por nada. Sabia tão bem o que queria e como a minha vida devia ser, quem queria para pai dos meus filhos. Hoje, fujo das tristezas como um diabo rodeado de cruzes e aprendi (mesmo) mecanismos que ajudam a diminuir os nós no peito. Invento mil ocupações e programas e passeios, apenas para evitar ficar só, porque quando fico não gosto. Passo a vida preocupada e com a certeza constante de que, mesmo quando tudo corre bem, falhei em alguma coisa. Não faço a menor ideia do que quero fazer e sinto que tenho este emprego, esta profissão, por acaso e não por que quis - embora não desgoste. No entanto, sei de cor cada escolha que me conduziu até aqui. Não sei quem quero para pai dos meus filhos, mas tenho a que qualquer gajo de quem goste não é sequer qualificado para tio da minha prole. Passo a vida a rir porque tem de ser, porque sou assim, porque posso estar no fundo do posso que continuo a cantar no banho e a rir quando tenho sono ou acabo de acordar. Porque sei que há quem esteja pior e porque se estou assim e me sinto assim a culpa (helás) é minha e só minha. E chateia-me a sério saber que houve uma altura em que mandei as jardineiras e o boné às urtigas apenas porque estava presa. E agora descobri que a liberdade imensa de tudo querer e tudo poder causa uma angustia imensa porque é feita de nada.
4 Comments:
nunca te vi tão honesta. e essa pelo menos é uma boa evolução. estamos a precisar de nova girls night, mas das outras, à conversa com lágrimas. podes, pelo menos, consolar-te com um "não estás sozinha" porque me revejo em muito do que dizes... tb tenho uma nostalgia de quando a viver era mais fácil. parece que as inseguranças da adolescência se avolumam para inseguranças de adultos-ou-quase.
growing up is tough mas eu seguro-te a mão!
Babe. Não concordo com quase nada do que disseste. Se é certo que te conheço há pouco tempo, também é certo que vejo para lá daquilo que mostras, porque afinal também eu me sinto tantas vezes como tu.
Não é ao calhas que somos almas gémeas. Mas quero que saibas uma coisa: se a vida te trouxe até aqui, não foi por acaso, não existem acasos. Crescer é, como diz, e muito bem, a (giríssima) sara, difícil, é bom saber que podemos contar uns com os outros.
Acho que estás (mesmo) no bom caminho, és muito boa naquilo que fazes e fazes bem em seguir em frente. Custa, ah pois custa, mas também ninguém disse que ia ser fácil.
Se tens saudades dos tempos fáceis, como eu, lembra-te que se hoje tivesses que passar por eles, fartavas-te numa semana.
É precisamente isso que nos faz continuar, as dificuldades, mas mais importante é saber que as vamos superar.
Como este comment já se está a tornar numa dissertação, deixo-te aqui uma frase feita de gajo batido: "O importante não é chegar ao cume da montanha, mas a forma como subimos a escarpa".
Adoro-te babe, do fundo do coração ;)
engraçado. acabei de escrever um post sobre o jamaica, sobre o facto de haver coisas que nunca mudam, etc. E o propósito de todas elas. deviamos estar conectados, mesmo que tenha sido dois dias depois. beijinhos
Estou pasma.
Como disse a Sara, e eu concordo, nunca te li tão honesta.
E chicão, por ser tudo verdade, é que ela é hoje a pessoa que é. Como ela diz, ela sabe de cor todas as escolhas que fez para estar onde está hoje.
E o mais incrivel é que não tem mal nenhum. Não existem escolhas certas, nem escolhas erradas. Essas são feitas consoante aquilo que nós achamos por bem, dada a circunstância.
Admiro.
Porque sei que não é fácil.
Crescer não é fácil, mas não estás de todo sozinha. Abre bem os olhos, e vê que tens ombros, pernas, mãos onde te agarrares.
Vamos construindo uma capa, e sempre achando que será melhor assim. Porque desvendar um milimetro sequer da nossa pele é assumir o que não se quer viver.
E aceitar aquilo que doí não é de todo uma realidade saudável que a nossa sociedade dita. Mas é inerente a nós, existe, e está lá. Saber viver com "padras no sapeto" é uma ginástica do caraças, porque á medida que sacodes entram outras.
Ser feliz é uma escolha. Tirar as pedras também.
Obrigada pela tua sinceridade. Acho que estava a precisar de um texto destes para me relembrar de muitas coisas. Principalmente num dia de domingo!!
hate sundays!
=*
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