"Dantes"
Acho sempre que houve um tempo em que a vida pôde ser perfeita. Em que o Verão era uma temporada infinita de praia. Houve um tempo em que se podia ser culto sem ser pedante e mal vestido. Em que se jogava bridge e fumava em fatos e vestidos à medida e de tecidos a sério que duravam uma vida, várias vidas, até hoje. Acho que houve um tempo em que se combinavam fins-de-semana para jogar ténis e beber whisky até altas horas enquanto se dançava. Enquanto se dançava mesmo, como se a música falasse e nos ditasse como os corpos se movem sem jamais de pisarem. Acho sempre que houve um tempo em que as praias de Agosto não enchiam até se tornarem um amontoado de corpos besuntados em filas mórbidas de inspiração nazi. Na praia, então, jogavam-se raquetes e malha e a praia era Mediterrâneo e azul plácido e barcos brancos. O Natal não tinha o Colombo à pinha com gentalha de fato de treino e empréstimos amontoados; tinha toalhas de linho bordadas e azevinho e embrulhos brilhantes das lojas da Baixa. Acho sempre que houve um tempo em que as casas tinham biblioteca porque os livros eram muitos e criavam o seu espaço como um exército que ocupa e vence pelo cansaço. Houve um tempo em que havia Tempo para ler e falar sobre o que se lia. Houve um tempo que não vivi e que foi perfeito, apenas porque são perfeitas as palavras que o criam.
2 Comments:
Com essa descrição digo-te: gostava de ter vivido "dantes"! :)
Bjs
Very creative ppost
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