Tuesday, March 10, 2009

Ressurreição

Os loucos são um lugar estranho entre os outros. Inspiram temor e fascínio a um tempo, como se os perdoássemos e condenássemos no mesmo instante. Pergunto-me como seria viver num hospício. Penso na resposta ao som dos meus passos. As minhas botas não têm salto. Mas as minhas botas são daquelas que ecoam pela rua vazia. Sabem do que falo? As minhas botas têm a cadência nervosa dos segundos de insónia e enchem a rua e acompanham-me a casa. Penso que gostava de viver no meio deles. Não para sempre, mas até me sentir normal. Entrar num freak show sem sentido e deixar-me por lá andar até me tornar protagonista ou obsoleta.

Não que não haja loucura cá fora. Há. Durante anos gritaram-me a minha normalidade sem sal até que também eu aprendi a rir-me dela. Rio-me dela quando a encontro em bilhetes, notas e k7s perdidos, guardados em caixas que conheço de cor. Lembro-me de cada frase, de cada cara, de cada verso idiota, de cada música imbecil. Depois comecei a rir e a chorar e a fazer o que todos fazem, a sentir. As caras de hoje vou esquecê-las amanhã. E é assim com frases, versos e músicas. E é assim com dias que passam e noites que acabam em manhãs iguais a tantas outras. E quando me calo, do riso e disso tudo que é viver, nada. Só o silêncio.

Gostava de estar lá, fechada no meio de loucos e longe do mundo normal, num momento absurdo que fosse.

by the way acabei de chegar do Adam Resurrected. Bom, mas não Brastemp. O final é fraco.

2 Comments:

Blogger Ernesto said...

"As minhas botas têm a cadência nervosa dos segundos de insónia.."
Inspirado!

adorei

08:52  
Anonymous Anonymous said...

Ao ler o que escreveste, veio-me à cabeça a letra de "All the madmen" do Bowie.

13:21  

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