Uma reportagem na Única deu para uma discussão na praia. Uma pequena discussão a fazer lembrar outros tempos de outras pequenas discussões em que a nossa persona pública se ia revelando. Sei que a maioria das minhas opiniões tem origem numa educação, no mínimo, priveligiada. Dêem-me o desconto. Acho também que este
post me quer dar uma lição de feminismo.
Não me lembro de alguma vez ter sofrido qualquer tipo de discriminação. Talvez seja este o problema. Nunca vi uma porta vedada, nunca me senti inferiorizada, apenas porque sou mulher. Vezes houve em que me fiz valer do meu género para me safar de algumas situações - atitude que choca a maioria das (dos?) feministas.
Nos circulos por onde ando, regra geral, as mulheres safam-se até melhor do que os homens.
Sei que não é assim com todos e também acho que há arestas a limar. Mas acredito piamente que não é com acções de guerrilha / mini-vandalismo que lá vão. As acções de choque criam espaço na imprensa, geram alguma (vamos ver quem fala disto nos próximos 15 dias) discussão e, mais do que tudo, criam aversão - essa sim, mais duradoura. Caras feministas, o lobby, como qualquer mulher sabe, é coisa para se fazer de forma velada, pensada estrategicamente.
Por outro lado, o radicalismo da coisa também me chateia. Poucas (poucos?) feministas aceitam que uma mulher queira para si apenas o papel de mãe. Ou de dona de casa. Não vejo preocuparem-se com a possibilidade de uma mulher responder a um chamado que, quer queiram, quer não, é biológico (o de ser mãe, não o de ser dona de casa). Não vejo lutas pelo aumento das licenças de maternidade, por exemplo.
Acima de tudo, acho que o feminismo passa por reconhecer as diferenças e integrá-las num quadro de oportunidades equivalentes. Adoro quando falam dos estereótipos masculinos como se eles fossem uma invenção civilizacional. Alguns são, outros não.
Não me conformo com o estereótipo da mulher portuguesa. Mulher que trabalha, que é mãe e tem de cuidar da casa. Mas acho que estas guerras domésticas são guerras pessoais. Se eu não obrigo o meu marido a lavar a loiça, não é um bando de estranhos que o vai fazer. Querer mudar o quotidiano doméstico através de grandes discussões públicas não leva a lado nenhum, acho. Acredito que podemos fazer muitas coisas através da melhoria do sistema de educação, mas pouco mais.
O que me aborrece no feminismo (e já agora em quase todos os ismos) é que sob a bandeira da liberdade, há uma intenção castradora. E confesso que me irritam os bandos que vão queimando os soutiens.
Eu, pessoalmente, não sei viver sem soutien.