Monday, May 28, 2007

George

Ao fazer a minha ronda pelos blogs, descubro um post sobre George Sand. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que li A Pequena Fadette. Tinha 10 anos e estava a passar o Verão na Balaia. Tinha acabado de deitar a mão a uma colecção de livros que tinha acompanhado a adolescência da minha Mãe. Tinha, na altura, uma formação literária construída à base de livros da Condessa de Ségur e da Enid Blyton. Por isso estranhei ler um livro em que a protagonista está longe de ser uma Menina Exemplar. Era quase uma bruxa. E levei uma eternidade a entender o que era o fogo-fátuo e a deixar de ser tão medrosa e preconceituosa quanto o resto dos personagens do livro. Sei que li o livro umas cinco vezes nos anos seguintes e sei que adorei saber que Sand havia sido amante de Chopin e Lizst. Vibrei com o filme Impromptu em que o Hugh Grant fazia de Chopin.

Sempre gostei desta mulher que tinha muito pouco de senhora mas que lutava e enfrentava de frente todos os que limitassem a força dos seus ideiais. A George Sand foi e será para mim uma imagem que admiro e reverencio, mas uma imagem do que nunca hei-de ser.

Sunday, May 27, 2007

Andar

Conta a minha avó muitas vezes que, em bebé, eu era muito dada. No Verão que antecedeu o meu primeiro aniversário dei cabo das costas de todos os adultos que me rodeavam porque queria "andar" por todo o lado - e só o conseguia fazer se me segurassem nas mãos. A minha avó levava-me a lanchar a uma esplanada e, segundo ela, a minha vontade era comunicar com todos os que lá estivessem. Como, na minha família, nem todos tinham nem a minha energia nem as minhas social skills, só fiquei satisfeita no dia em que me deram um andarilho (diz que agora os pediatras não recomendam) e pude andar como queria e para onde queria, "metendo-me" com uma série de estranhos - sem que a minha avó me perdesse de vista.

Esta semana, depois de tirar o gesso, invadiu-me uma alegria enorme. Ter de volta a capacidade de fazer o que quero, como quero e quando quero. E desde então tenho-me lembrado muitas vezes desta história da minha infância.

Lady of the rings


Europa


Saturday, May 26, 2007

Alba


Hoje voltei a ver o dia nascer no Lux.

Thursday, May 24, 2007

Inutilidades

Tenho uma tendência enorme para me fixar em coisas que não interessam nem a nada nem a ninguém. Por exemplo, nunca mais me vou esquecer do relógio que o Robert Downey Jr. usa em Zodiac.

Fotografia

Gosto de fotografia. Cada foto apresenta um ângulo, uma escolha, uma forma de ver a realidade. Comprei uma máquina fotográfica nova. Não tenho jeito nenhum para esta arte (ou para qualquer outra). Comprei-a pequena para trazer na carteira apenas para guardar aquelas pequenas coisas que mais ninguém regista.

O Portão

Desta vez, foi mais do género: quando Deus embacia uma janela, abre algures um portão.

Furacão

Oiço, não raras vezes, que a minha vida é um furacão. Gosto dela assim. Raras vezes me aborreço e o turbilhão emocional mantem o sangue quente e a alma viva. Quando me acidentei, houve logo quem abençoasse a pausa a que seria forçada, que finalmente ia descansar. Enganaram-se todos aqueles que acreditaram que a minha vida seria mais zen apenas porque perdi a faculdade de andar (por uns tempos que, arrastando o pé, já tenho os meus muleta-free moments). Digamos apenas que nos últimos 15 dias vivi em verdadeiro stress, com picos emotivos diametralmente opostos. Valeu a pena: como sempre, tudo acabou bem.

True, so true

Meninas com duas pernas vão para o céu, Jones de muletas vai a todo o lado.

Monday, May 21, 2007

Os outros

Poucas coisas serão mais difíceis do que aprender a dividir o espaço. O tempo. Aprender que o nosso espaço tem fim e que depois de nós estão os outros. Pensamos, talvez erradamente, que a independência é a faculdade de vivermos por nós próprios e termos o nosso espaço. De fazermos do nosso umbigo o princípio e o fim do nosso mundo. Viver com os outros não é fácil. Dificulta-nos a fuga, obriga-nos a engolir a nossa cobardia e a pensar no todo e não apenas na pequena e leve parte que constitui o nosso ego.

Na TV

Oiço na televisão: qualidade de vida não é facilidade de vida*. Quanta verdade em tão poucas palavras.

*Gonçalo Ribeiro Telles dixit

Thursday, May 17, 2007

Dom II

Julgo que o grande problema é que todos julgamos que temos um grande dom. Ou um dom que faça de nós grandes. Um dom artístico. O dom de atrair fortunas ou apenas os outros. Um dom que nos faça felizes. O mal é que o nosso dom, muitas vezes (espero), é mais proveitoso para os outros do que para nós.

Dom

Parte do desassossego advém de não reconhecer o próprio dom. Todos temos um. Depois de o descobrirmos, temos de aceitá-lo e depois de o aceitar devemos aprender a viver com ele. Esta é uma aprendizagem que não se faz por mimetismo e também não creio que seja possível a elaboração de pesados compêndios. Quando descobrimos qual é o nosso dom sabemos de imediato que vamos falhar e que vamos duvidar dele muitas dúvidas. O cepticismo acompanha-nos por todo o processo. Mas enquanto crescemos acertamos umas vezes. É para a certeza que a vida nos empurra. E contra o Destino, já diziam os gregos, não vale a pena lutar.

Monday, May 14, 2007

Domingo à noite

Sunday, May 13, 2007

Lisboa



Adoro Lisboa. Dificilmente podia ser mais lisboeta. Os meus pais nasceram em Lisboa, os meus avós também. Nunca soube o que era ir passar férias "à terra". Passar férias com os meus avós era apenas uma outra forma de estar em Lisboa. Brincar no jardim dos meus avós onde apenas amiúde se ouvia um carro a passar. Subir a Infante Santo pela mão da minha avó ignorando a barulheira que nos embalava. Lanchar no Jardim da Estrela. Ir ver a Branca de Neve ao Tivoli. Lembro-me de ir, todos os anos, com a minha Avó Nita a uma loja na Avenida da Igreja comprar uns chapéus de ganga que odiava, porque eram chapéus e porque tinham um elástico que me deixava sem respirar. Lembro-me de lanchar na Suíça em tardes de chuva antes de ver o circo no Coliseu. Ainda hoje gosto das manhãs com um gosto decadente em que saio do Lux para a luz branca de Lisboa e caminho de cor até casa. E gosto de tardes ociosas passadas no Adamastor e das noites de Santo António em ruas estreitas e sem nome.

Por isso me chateia que se diga que o Presidente da Câmara deve ser um arquitecto. Nem tão pouco acho que quem ocupe aquele cargo tenha uma profissão específica. Quero apenas que seja alguém que goste de Lisboa tanto (ou mais) como eu.

Thursday, May 10, 2007

Post it


As minhas mãos não são apenas a minha forma de locomoção, mas também têm funcionado como auxiliares de memória, em substituição dos meus amigos amarelinhos.

Wednesday, May 09, 2007

Convalescença

É típico da minha pessoa ficar lamechas na fase de convalescença. Quando estou mal, mesmo mal, fico insuportável, quase não tolero que me toquem, temendo que a fortaleza artificial, que a custo vou mantendo, desabe. Mas assim que ao longe aparece a cura, o momento de liberdade, toda a angústia contida se transforma em lamechice peganhenta. É a altura do mimo, de ter saudades do toque e de todas as expressões físicas de afecto.

a minha perna direita, do joelho para baixo

Não é grave, nem o fim do mundo. Nem em alguma altura tive dores insuportáveis (só por causa da epidural). Tenho recebido mimos e atenções, tenho sido tratada como uma princesinha. Mesmo assim, tenho saudades de mim, do tempo que era só meu enquanto percorria a pé meia cidade. Tenho saudades de andar pela noite, sem destino e sempre nos mesmo sítios. Tenho saudades de noites de que nem me lembro e tenho saudades de não as lembrar. Sinto a falta do som abafado dos meus passos no corredor aqui de casa e sinto falta de sair sem que ninguém saiba para onde vou - nem eu.

Tenho saudades de mim e enoja-me o facto de a minha perna direita, do joelho para baixo, há quase seis semanas não saber o que é agua.

Tuesday, May 08, 2007

Feeding my Ego at Gmail Talk II

para além de que o teu ego é uma arma tão gira e tão perigosa quanto os teus olhos de bambi

teres o ego em baixo é como andares de óculos escuros

teres o ego em cima já se asemelha mais a qualquer coisa com os olhos vendados, ou qualquer coisa kinky desse género

Feeding my Ego at Gmail Talk

os teus são castanhos escuros... forma de amêndoa... uma arma terrível, alías... cuja fama a precede

True

hoje andei a ouvir strokes

I'll be alright

You say you wanna stay by my side
Darlin', your head's not right
See, alone we stand, together we fall apart
Yeah, I think I'll be alright

Inside

Some people think they're always right
Others are quiet and uptight
Others they seem so very nice nice nice nice nice oh oh
Inside they might feel sad and wrong

Saturday, May 05, 2007

Padra no sapeto*

Há poucas coisas melhores que uma gargalhada que vem do nada e do tudo, do álcool, de parvoíces e de coisas maradas fumadas entre amigos.

*Expressão roubada à Inês.

Thursday, May 03, 2007

A fascistazinha dentro de mim



A Ségolène Royal assusta-me. Tão perfeitinha, sempre impecável. O cabelo sempre direitinho. Não confio em gente com o cabelo muito direitinho. Tem ar de quem esconde um segredo assustador. De uma maldade fria, gelada. O gajo pode ser um fascistazito xenófobo, mas acho que confio mais facilmente em Sarkozy, do que nesta dama de gelo. Embora, em teoria, goste muito mais das ideias da Miss Cold Ice...

Tuesday, May 01, 2007

Mea Culpa

Sempre que me culpam de alguma coisa, não fazem mais do que repetir os discursos que a minha consciência (a quem carinhosamente chamo de inquilino) exaustivamente me ditou. À primeira falha, tenho o meu inquilino à perna, sublinhando-me tudo o que poderia ter feito de uma forma diferente, culpando-me pelo sofrimento do Mundo e pela crucificação de Cristo. A cara que faço não é, por isso, de desinteresse. Nem tão pouco pensem que já nada oiço. É apenas a minha reacção a esta espécie de déjà vu.

Vantagem

Uma das vantagens de ser totalmente egocêntrica é que, para mim, é como se nada existisse para lá do que os meus olhos conseguem ver. E isso é, muitas vezes, uma vantagem.

Cura

O que os olhos que não vêem, o coração não sente.
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