Monday, March 30, 2009

Graceful

Há pessoas com graça. Não com piada. Com graça. Graciosas e não engraçadinhas. Mais do que a querer ser perfeita, acho que cresci a querer ter graça. Às vezes confundo o ter graça com ser apagado. As pessoas com graça são mais silenciosas, mas têm mais luz. Têm gestos calmos e a voz controlada e essas coisas todas, Graces Kellys da vida. Não têm o cabelo permanentemente despenteado nem se riem a 174 decibéis. Mas os holofotes não olham para mais lado nenhum.

Wednesday, March 25, 2009

Corrente de ar

O problema de levar a vida meio na brincadeira, é que nunca as portas ficam bem fechadas. E por muito morna que seja a galhofa com que temperamos o dia-a-dia, estamos sempre em risco de apanhar com uma valente corrente de ar.

Bom, hoje "constipei-me".

PS - Odeio o Facebook.

Tuesday, March 24, 2009

"Dantes"

Acho sempre que houve um tempo em que a vida pôde ser perfeita. Em que o Verão era uma temporada infinita de praia. Houve um tempo em que se podia ser culto sem ser pedante e mal vestido. Em que se jogava bridge e fumava em fatos e vestidos à medida e de tecidos a sério que duravam uma vida, várias vidas, até hoje. Acho que houve um tempo em que se combinavam fins-de-semana para jogar ténis e beber whisky até altas horas enquanto se dançava. Enquanto se dançava mesmo, como se a música falasse e nos ditasse como os corpos se movem sem jamais de pisarem. Acho sempre que houve um tempo em que as praias de Agosto não enchiam até se tornarem um amontoado de corpos besuntados em filas mórbidas de inspiração nazi. Na praia, então, jogavam-se raquetes e malha e a praia era Mediterrâneo e azul plácido e barcos brancos. O Natal não tinha o Colombo à pinha com gentalha de fato de treino e empréstimos amontoados; tinha toalhas de linho bordadas e azevinho e embrulhos brilhantes das lojas da Baixa. Acho sempre que houve um tempo em que as casas tinham biblioteca porque os livros eram muitos e criavam o seu espaço como um exército que ocupa e vence pelo cansaço. Houve um tempo em que havia Tempo para ler e falar sobre o que se lia. Houve um tempo que não vivi e que foi perfeito, apenas porque são perfeitas as palavras que o criam.

Dos árbitros e assim

Um bisavô meu foi durante uns tempos árbitro de uma qualquer divisão de futebol amador. Um dia, entrou num café onde se discutia o jogo. Atribuiam ao árbitro as culpas pelo péssimo espectáculo. O meu bisavô deixou nesse dia o hobby que o entretinha aos fins-de-semana.

Não querendo parecer a bitch que o Facebook diz que sou, acredito que devemos ser avaliados pelo nosso desempenho e que os erros devem ter consequências. Que sejamos capaz de os assumir e de assumir a nossa "pena" é, acredito, das coisas que separa os fortes dos fracos.

Se bem que, às vezes, gostaria de ser apenas forte e não apenas vítima de uma culpa aguda, reminiscente da fraca educação católica que recebi.

Monday, March 23, 2009

Prazo de validade

E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão.

Clarisse Lispector

o que ficou de uma tarde de Sábado no CCB.

Os Burocratas

Há pessoas que insistem em tratar da própria vida com o mesmo zelo com que um funcionário de repartição verifica se todas as cruzinhas do formulário estão de acordo com as normas europeias sobre as cruzinhas de formulário. Têm uma grande check list que adaptam aos seus humores com o sentido prático com que um cirurgião retira uma vesícula em stress. Há pessoas que insistem em ter a vida organizada por cores e temas que não se misturam, numa felicidade programada, organizada e serena. Não percebo, nem nunca percebi, onde, na vida destas pessoas, a paixão fica arrumada. A paixão, parece-me, juntamente com todos os grandes sentimentos, tem uma propensão natural a sair da gaveta onde gostaríamos de a ter arrumada. A ser inconveniente e a deixar-nos a vida de pantanas. A minha pelo menos. Porque a dos outros, a vida desses burocratas com os sentimentos e as peúgas arrumados por cores, está sempre pronta a ser o destaque da semana no site da Martha Stewart.

Wiser

Acordei e estava diferente. Não sei nem explicar porquê. Mas estava diferente. Nada a ver com a tarde de poesia na véspera no CCB. Nem com a noite num jantar de família. Nem com qualquer devaneio absurdo que me tivesse ocupado os sonhos durante a noite. Não li, nem vi, nada que me impressionasse, que me fizesse repensar a vida, que me alterasse sequer o estado de espírito, quanto mais capaz de me mudar a mim, inteirinha. Como sempre, ignorara os sintomas. A moínha que sentia no ouvido esquerdo ia já para dois dias, parecia-me sintoma de uma gripe leve que se anuncia de mansinho para depois me deixar de cama. Ingénua, eu sei. Ontem, febril e rabugenta, percebo afinal que a moínha nada tinha a ver com virús, nem gripes corriqueiras.

Ontem, a meio da tarde, a realidade tomou conta de mim: o meu siso superior esquerdo está a nascer. Por mais que fuja, as garras da idade adulta teimam em prender-me.

Friday, March 20, 2009

Tesourinhos

Uma vez disseram-me que apenas devia temer os que nada têm a perder. Com todos os outros é possível negociar. Tenho, no entanto, que aprender a temer aqueles que suam muito para ter aquilo que a mim me chega de bandeja.

Suprema Blasfémia

Não gosto do Clint Eastwood nem do Tarantino. Depois de ter feito chacota de alguém mais novo e mais pequeno do que eu durante o meu baptismo, este é o facto que definitivamente me condena a uma eternidade ao som de Celine Dion.

Wednesday, March 18, 2009

Oração

A Deus peço apenas humildemente que forneça um cérebro (por mauzinho que seja) a todos os que se cruzam comigo. Caso tal seja absolutamente impossível, mesmo para Quem se descreve como "omnipotente", pedia-Lhe por favor que removesse o (que resta do) meu - mas não à la Natasha Richardson, com menos drama.

Agradecendo desde já a gentileza e amabilidade de me conceder uns segundos do Seu infinito Tempo.

Amén.

Thursday, March 12, 2009

Unlike you

Há quem ande tão obcecado com as parecenças que se esquece que as diferenças são gritantes.

Confort Zone

Há um je ne sais quoi de conforto nesta altura em que as casas começam a aquecer. Há um cheiro próprio da Primavera que se anuncia. Da poeira que se solta. Do sol que queima a calçada durante o dia e da brisa suave que chega de noite para lembrar que, de facto, o Inverno ainda não acabou.

É como se o mundo me quisesse lembrar que o bom Tempo volta sempre.

E a lua de ontem, oh meu deus, alguém perdeu tempo a olhar para a fabulosa lua de ontem?

Wednesday, March 11, 2009

Chillax

Não sou pessoa de me stressar. Chateio-me, sim. Tenho raivinhas que chegam e passam sem que perceba bem como ou porquê. E tenho raivas a sério que me põem as bochechas em modo pimentão e me tiram as palavras - é difícil calar-me, mas há quem consiga. Também tenho os meus moods e tristezas, como toda a gente. Mas stress é coisa que é raro tocar-me. Mais. O stress a mim chega por coisas absurdas de pequenas. E, imagino que ao contrário das pessoas normais, raramente tem a ver com trabalho. Às vezes é só por estar à espera de um e-mail.

Depois o stress fica-se-me nos ombros e nas costas. Coisa de gajo, parece, uma vez que às gajas que conheço o gajo dá-lhes a volta ao estômago ou assim. E mais. Nunca sei porque é que ele vem.

Ontem chegou.

Não sei bem porquê, mas desconfio. De repente as minhas costas eram um molho de nós. De repente mesmo. Em dez minutos ou assim, que é o tempo de casa da minha avó à minha (de carro, Infante Santo - Av. do Brasil).

Cheguei a casa e fiz tudo o que qualquer guru new-age-mãe-terra-pauzinhos mandaria: banho gigante de água quente e pilhas de espuma + Vogue Francesa + Velas + Esfoliante + Máscara para o cabelo + Máscara de argila + Máscara Hidratante + creme hidratante + creme para pés e mãos + chá branco.

Deitei-me às 2h da manhã relaxadinha, relaxadinha. Como dormi pouco, estou com um humor de cão - mas com as costas fixes.

Tuesday, March 10, 2009

Vá lá que é das que eu gosto...



...acho que foi por causa da pergunta do DVD.

Ressurreição

Os loucos são um lugar estranho entre os outros. Inspiram temor e fascínio a um tempo, como se os perdoássemos e condenássemos no mesmo instante. Pergunto-me como seria viver num hospício. Penso na resposta ao som dos meus passos. As minhas botas não têm salto. Mas as minhas botas são daquelas que ecoam pela rua vazia. Sabem do que falo? As minhas botas têm a cadência nervosa dos segundos de insónia e enchem a rua e acompanham-me a casa. Penso que gostava de viver no meio deles. Não para sempre, mas até me sentir normal. Entrar num freak show sem sentido e deixar-me por lá andar até me tornar protagonista ou obsoleta.

Não que não haja loucura cá fora. Há. Durante anos gritaram-me a minha normalidade sem sal até que também eu aprendi a rir-me dela. Rio-me dela quando a encontro em bilhetes, notas e k7s perdidos, guardados em caixas que conheço de cor. Lembro-me de cada frase, de cada cara, de cada verso idiota, de cada música imbecil. Depois comecei a rir e a chorar e a fazer o que todos fazem, a sentir. As caras de hoje vou esquecê-las amanhã. E é assim com frases, versos e músicas. E é assim com dias que passam e noites que acabam em manhãs iguais a tantas outras. E quando me calo, do riso e disso tudo que é viver, nada. Só o silêncio.

Gostava de estar lá, fechada no meio de loucos e longe do mundo normal, num momento absurdo que fosse.

by the way acabei de chegar do Adam Resurrected. Bom, mas não Brastemp. O final é fraco.

Monday, March 09, 2009

Harakiri de um soutien

Segunda-feira e acordo com um humor de cão. Monday reds, pensava eu numa evocação manhosa do Breakfast at Tiffany's. Mas, envolta na penumbra das coisas que me chateiam, nem me apercebi que alguém mais sofria. Alguém que, a meio da A5, decide abruptamente terminar com a sua vida. O meu soutien tentou entregar a alma ao criador, sem avisos, nem notas de despedida. Também não contou com o meu talento para manipular clips. De qualquer das formas, hoje à hora do almoço vou bra shopping para o Alegro.

Memo to me: acabou-se a história do soutien artístico, com merdinhas de metal.

Saturday, March 07, 2009

Título de vida

O uso abusivo de advérbios de modo ou a incapacidade de simplesmente fazer.

Friday, March 06, 2009

Caixas

Como pessoa naturalmente desorganizada e compulsivamente controladora, sou necessariamente metódica. Aos outros arrumo-os em caixas. Agrupo-os de acordo com características mais ou menos fúteis, mais ou menos superficiais. Não é coisa de agora, pelo que me atrevo a dizer que faz parte da minha natureza. Em criança tinha dois grupos, perfeitamente definidos.

Hoje são muitos: os válteres, os mãe-terra-pauzinhos, intelectuais, pseudo-intelectuais, suburbanos, indies, da cena, pseudo-da-cena, os puros, os tou-me-nas-tintas, os que sabem, os que-fingem-que-sabem, os suburbanos, os meninos, os aborrecidos, os que-só-têm-trabalho, os chatos, os dependentes, os presunçosos, os perfeitinhos, os trauma-com-a-mãe (pai, infância, qualquer coisa com que gostam de a espaços massacrar um psicólogo), os da-gota-de-orvalho-na-haste-da-planta, etc. São muitos e há quem entre em várias caixinhas e há quem ocupe uma caixa inteira.

As pessoas tornam-se tão mais interessantes quanto me é difícil fechá-las numa caixa. Adoro os que de repente saem de uma para outra, ou que me fintam sempre que estou pronta a fechá-los.

Thursday, March 05, 2009

Location, location, location

Há uma coisa que me chateia. Quando querem ter pensamentos profundos as pessoas vão para sítios bonitos (falésias junto ao mar bravio, florestas húmidas de orvalho e outras merdas lamechas que tais) ou as pessoas têm os pensamentos profundos quando estão nos sítios bonitos (falésias junto ao mar bravio, florestas húmidas de orvalho e outras merdas lamechas que tais)?

Pessoalmente não sou grande fã dos pensamentos profundos de uma maneira geral e fico por isso um bocado chateada quando eles me aparecem a meio da A5, justamente a meio de um insulto dirigido á puta do Polo branco que não me deixa entrar para a faixa da direita. Ou quando a meio de um banho que se queria relaxante eles aparecem para mel lembrar de coisas que o duche devia fazer esquecer. Ou mesmo a meio de um dia de trabalho em que devia estar concentrada em coisas bem mais práticas do que pensamentos profundos.

E depois esta coisa nada poética de eles aparecerem em ambientes banais e a frente de toda a gente.

Tuesday, March 03, 2009

Sexy, very sexy, grey

Literal

Para que não haja dúvidas: esta música nunca teve qualquer significado na minha vida. Entrou-me hoje na cabeça e não me consigo livrar dela nem à lei da bala. Não lanço SOS (como a maioria dos que me rodeiam tão bem sabem), raras vezes peço ajuda (e fico fula quando tenho de o fazer - não consigo abrir os frascos de Compal Essencial), carry on não é um problema (andar para a frente é o meu lema) e acho que o Pierce Brosnan é gay.

E sim, há certas coisas que devia tirar da cabeça, mas não sei como.

Sleepless

Sempre que adormeço, a Dúvida surge-me em sonhos. Mascarada com uma série de hipotéticas e patéticas situações. Está em cada cena, em cada diálogo. Surge cercada por certezas sedutoras, redutoras, que esgrimem argumentos com a doçura de um demónio com tempo infinito encantando uma alma eterna. As horas de vigília trazem-me a vida com todas as cores e espectros, acordada consigo esquecer-me Dela. Quando durmo, sou só eu e Ela. Frente a frente. Eu, com todas as minhas certezas e a Dúvida altiva, vitoriosa.

Did You Know?

Das coisas más que não me saem da cabeça

Monday, March 02, 2009

Alheia

Há um travo enfadonho na felicidade alheia que a desgraça dos outros nunca tem.

"Pedro Pinto"

A legenda: Luísa, irmã de Luciana Abreu, trouxe Pedro Pinto, o boneco que dá sorte à apresentadora de "Lucy". "É importante, porque ela tem-no como amuleto da sorte. É com o 'Pedro Pinto' que ela desabafa, e acha que ele lhe transmite força e coragem para enfrentar a vida", revelou.

M a r a v i l h o s o

Thin Line

Há uma fina linha entre a realidade e o sonho. Não raras vezes, quanto o que interessa é o detalhe, confundo com alguma facilidade o que aconteceu com o que sonhei. Ontem, estafada de uma noite saltitona com I'm from Barcelona (loved), caí numa sesta, dessas em que o corpo descansa e o espírito divaga, sem que de facto se consiga dormir. Neste estado que não sei classificar, uma vez que não se trata de sono, nem tão pouco consciência, sofri, ou sonhei que sofri, uma espécie de ataque epiléptico. Não que alguma vez tenha tido um ataque epiléptico (bom... uma vez a minha mãe tentou ser ela a tirar-me sangue e a coisa correu mal porque desmaiei e dobrei o braço, acabando com a agulha enterrada até ao cotovelo. Na altura, foi mais um susto e epiléptica foi uma palavra sussurrada). Bom, a imagem que tenho na cabeça é a da minha mão desgovernada com a janela em fundo, com a exacta luminosidade que encontrei ao "acordar". Mas o pior foi a tentativa de chamar por alguém que me ouvisse. Não conseguia articular palavra (também não espumava nem babava nem nada do género). Mas senti que gritava e ninguém ouvia. E eu ouvia-os lá em casa nas suas vidas do dia-a-dia, tão longe e tão surdos.
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