De há uns anos para cá, não me ligo, desligo, não crio laços, não os quero criar, chateio-me porque não os crio.
De há uns anos para cá, habituei-me a pensar em mim sozinha, a não depender de nada nem de ninguém, muito menos afectuosamente.
De há uns anos para cá, sinto-me claustrofóbica se se aproximam de mais, tenho necessidade da minha vida, do meu espaço, de ser eu, mesmo que não faça a menor ideia de quem seja.
De há uns anos para cá, desconfio, confio por 5 segundos e volto a desconfiar, com a certeza absoluta de que o que é agora amanhã já não será.
De há uns anos para cá, vivo à espera que aqueles que me rodeiam descubram que sou uma fraude, que não sou o que esperavam e, simplesmente, desapareçam.
De há uns anos para cá, o meu umbigo ocupou o centro e o horizonte do meu mundo. Porque assim crio uma muralha, uma defesa, uma forma de sobreviver.
De há uns anos para cá, aprendi a racionalizar o que era emocional e a repetir mantras de negação.
De há uns anos para cá, de uma maneira geral, tornei-me um bocado pior do que era.
Pelos danos causados, a gerência pede a vossa compreensão. Não vos prometo que as coisas melhorem, nem tão pouco que a gerência se esforce para as melhorar.
Aos que resolverem sair, garantimos a sobrevivência.