Monday, July 30, 2007
Sunday, July 29, 2007
Solução
Ofereceram-nos 20 Euros, para começarmos a nossa vida a dois. Um aspirador vintage, pelo qual os dois nos apaixonámos - que temos o mesmo gosto, não fossemos nós almas gémeas - tornou de repente tão real a certeza de que não tarda todos os dias podem ser assim. Com conversas tolas e sérias e risos que não param nunca. Com várias neuroses misturadas numa deliciosa paella de gargalhadas.
O calor
Depois de uns dias (umas semanas) de alguma (bastante) neura, chegou o calor. Com o calor, o tempo pára, colado que fica às paredes das casas. A mente abranda e o frio fica longe, longe. A pausa quebra o ritmo e inverte a cadeia de pensamentos. É como se passasse para uma outra dimensão, sem espaços nem referências que me lembrem do que não me quero lembrar. E nesse limbo existencial recolhi forças para reorganizar tropas e voltar a ser eu.
Wednesday, July 25, 2007
De trombas
Quando me chateio tenho tiques faceis de reconhecer. Fico calada. Franzo o sobrolho. Cravo as unhas na palma da mão. Mordo o interior do lábio de baixo. Amuo. Vou-me embora. Bastante transparente. Raras vezes tento sequer disfarçar. Mas raramente entendem a verdadeira razão pela qual estou chateada. E isso, chateia-me.
Tuesday, July 24, 2007
Interpretação
Sou demasiado umbiguista para procurar saber de mim pelos olhos dos outros. Os olhos de que falei, os tais que não me reconhecem, são da minha Avó. Que não me reconhece de todo, mas que garante que sou boa, apenas porque a sua capacidade de gostar de mim não se esgota com a senilidade.
Monday, July 23, 2007
Confusão
Não há nada pior do que olhar para uns olhos que adoramos e não ver nada. Nem sequer o amor que sentimos de volta.
Retrair
Sempre que estou com alguém de quem não gosto, retraio-me. Sempre que estou com alguém que julgo não gostar de mim, retraio-me. Sempre que estou com alguém que me adora apesar de não me reconhecer, retraio-me. Falo como sempre, mas com um tom de voz controlado. Rio-me, mas sem as gargalhadas javardas do costume. Soletro cada sílaba, em vez do chorrilho corridinho. Imagino que retraida seja muito mais agradável. Para os outros.
Sunday, July 22, 2007
O Gosto e o Bom
Consigo precisar exactamente aquilo que me faz não gostar de uma coisa (um filme, uma música, uma pessoa). Não consigo nunca explicar porque não a acho boa.
Tolerar II
Não sou muito tolerante. Não que me esforce por dissuadir os outros do que quer que seja. Mas sempre que não concordo com escolhas, saio de cena. De fininho, de mansinho, mas desapareço. É uma cobardia, mas também um sinal de intolerância.
Tolerar
do Lat. tolerare
v. tr.,
consentir tacitamente;
ser indulgente;
deixar passar;
permitir;
desculpar;
suportar.
v. tr.,
consentir tacitamente;
ser indulgente;
deixar passar;
permitir;
desculpar;
suportar.
Wednesday, July 18, 2007
Tripping down memory lane
No passado fim-de-semana fizemos uma girls night e em memória de outros tempos fomos para o Jamaica ouvir um cheirinho a Rockline. Foi bom por ver que há coisas que nunca mudam e que há músicas que vou poder dançar a vida inteira. Esta semana recebi uns e-mails a comentar a noite e que "é bom termos mudado". Não sei se concordo. A miúda de jardineiras e boné que tinha medo dos cabeludos do Rockline está diferente. Mas não está mais feliz. Na altura pasava horas comigo própria e estava bem. Lia livros de uma ponta à outra. Raramente me preocupava e quando isso acontecia, durava meia-hora. Era verdadeiramente feliz e passava a vida a rir por tudo e por nada. Sabia tão bem o que queria e como a minha vida devia ser, quem queria para pai dos meus filhos. Hoje, fujo das tristezas como um diabo rodeado de cruzes e aprendi (mesmo) mecanismos que ajudam a diminuir os nós no peito. Invento mil ocupações e programas e passeios, apenas para evitar ficar só, porque quando fico não gosto. Passo a vida preocupada e com a certeza constante de que, mesmo quando tudo corre bem, falhei em alguma coisa. Não faço a menor ideia do que quero fazer e sinto que tenho este emprego, esta profissão, por acaso e não por que quis - embora não desgoste. No entanto, sei de cor cada escolha que me conduziu até aqui. Não sei quem quero para pai dos meus filhos, mas tenho a que qualquer gajo de quem goste não é sequer qualificado para tio da minha prole. Passo a vida a rir porque tem de ser, porque sou assim, porque posso estar no fundo do posso que continuo a cantar no banho e a rir quando tenho sono ou acabo de acordar. Porque sei que há quem esteja pior e porque se estou assim e me sinto assim a culpa (helás) é minha e só minha. E chateia-me a sério saber que houve uma altura em que mandei as jardineiras e o boné às urtigas apenas porque estava presa. E agora descobri que a liberdade imensa de tudo querer e tudo poder causa uma angustia imensa porque é feita de nada.
Wednesday, July 11, 2007
Tuesday, July 10, 2007
Os olhos dela
Aos olhos dela a minha Avó é a Bivó. Aos olhos dela o meu Pai é tio-avô e eu sou a tia que inventou um capuchinho feito com um casaco cinzento que mais tarde serviu para a transformar numa versão Pin y Pon de Gandalf, the Grey. Aos olhos dela a minha Avó é uma senhora velhinha, velhinha, que parece estar a dormir, frágil, enquanto todos vivem. O meu Pai é um senhor de idade com o (pouco) cabelo da cor da neve nos Alpes suíços. Aos olhos dela eu estou longe de ser a menina de jardineiras e boné.
Há olhos que os olhos dela nunca vão ver e que eu gostava de lhe contar. Há olhos que ela vai ver gravados em fotografias de outros tempos, de outra luz que não a que os seus olhos grandes vêem.
Aos olhos dela, somos todos outros, diferentes do que costumávamos ser. Os olhos dela mostram-me o tempo como ele é.
Sunday, July 08, 2007
Festivais
Ir ao SBSR este ano acabou por ser quase um teste às minhas capacidades de resistência. Depois de um dia inteiro de trabalho intenso, misturar-me com alguns milhares de pessoas e tentar dançar com uma perna biónica, foi coisa para me deixar de rastos. Mas valeu a pena. Não vou fazer uma crítica alargada, até porque as há aos montes pela blogosfera. Destaco apenas Arcade Fire, um concerto quase místico, que em algumas alturas quase me levou às lágrimas e que me lembrou os ritos dionisíacos de Nietzsche. LCD Soundsystem deram provavelmente o melhor concerto do festival (eu, pessoalmente, gostei mais de Arcade Fire), gostei de Klaxons e de Interpol. Não gostei da esquizofrenia do tempo - não sei como não estou com uma pneumonia - que teve de tudo: chuva no primeiro dia, vendaval no segundo e um calor dos diabos no terceiro.
Ainda na onda musical dos últimos dias, ontem assisti a mais um concerto dos Alucina. Estão já na final e com aquele som, ninguém os pára.
Monday, July 02, 2007
Indecoro
Descubro pelo meu sitemeter que o meu blog é a primeira referência quando pesquisamos "decotes gigantes" no Google.
Distância
Não gosto de distâncias e por isso acabo por viver tudo ao mesmo tempo. Não gosto de distâncias porque não têm toque, cor, cheiro e muitas vezes não têm som. Não gosto de distância porque ter tempo faz-me pensar e apenas quando penso tenho medo. Não gosto de distância porque ao longe as palavras têm outra forma e sentidos de outro dicionário. Não gosto de ter aqueles de quem gosto longe, sem os ver, sem lhes tocar. E não gosto desta diáspora que atinge a minha geração e vos empurra para longe de mim.
Sunday, July 01, 2007
A TV que temos
Está a dar no Canal 1 o concerto de homenagem a Diana, a Princesa do Povo. Para quem deste domingo não quer mais do que vegetar no sofá, o programa tem dado para galhofa pura. O Júlio Isidro acabou de chamar Saiçór Sisters aos Scissor Sisters. O senhor dos Supertramp mostrou que já devia estar morto (e quase que morreu durante a actuação), o Tom Jones está a cantar Artic Monkeys, e a Maria Elisa preferiu falar com uma voluntária-muito-querida-que-foi-ajudar-os-pobrezinhos-em-África-sei-lá, em vez de nos deixar ouvir o Dennis Hopper (segundo a Maria Elisa, podemos ouvi-lo no cinema...).